Uma semana depois do adeus de Jorge Jesus, o Flamengo ainda continua à busca de um sucessor para o treinador que revolucionou a equipe rubro-negra e conquistou o título brasileiro e a Libertadores do ano passado. O vice-presidente de futebol do clube, Marcos Braz, está desde ontem em Lisboa para conversar com candidatos ao cargo e tentar decidir quem é o melhor nome para assumir o time na sequência de 2020.
O Flamengo já definiu que, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), deseja manter a aposta em técnicos estrangeiros. Por isso, os nomes mais cotados para a função são portugueses e espanhóis. O "Blog do Rafael Reis" apresenta abaixo os quatro favoritos para suceder Jorge Jesus na equipe carioca, explica os prós e contras de cada um deles e também como eles costumam armar suas equipes.
LEONARDO JARDIM
Português 45 anos
Sem clube
No cenário atual, é o nome preferido da diretoria do Flamengo. Nascido na Venezuela, mas naturalizado português, Jardim fez até mais sucesso que Jorge Jesus no cenário europeu. Seu auge foi na temporada 2016/17, quando interrompeu a hegemonia do Paris Saint-Germain no Campeonato Francês e também levou o Monaco até as semifinais da Liga dos Campeões da Europa. O treinador ainda fez a dobradinha (título da liga e copa) na Grécia, pelo Olympiacos, e ganhou a segundona portuguesa, com o Beira-Mar.
Adepto de um futebol bastante agressivo, com laterais bem avançados e abuso das jogadas em velocidade pelos lados do campo, Jardim tem uma outra vantagem sobre Jesus: a facilidade em trabalhar com jovens jogadores. Durante a passagem pelo Principado, ele revelou Kylian Mbappé, lapidou Bernardo Silva e transformou Fabinho em jogador de meio-campo. O maior problema para o Flamengo é que ele já expressou que prefere continuar trabalhando na Europa.
CARLOS CARVALHAL
Português 54 anos
Rio Ave (POR)
Apesar de não estar entre os técnicos portugueses mais badalados da atualidade, goza da simpatia da diretoria flamenguista por ter um estilo de trabalho bastante semelhante ao de Jesus. Assim como ex-comandante do Flamengo, Carvalhal também costuma exigir bastante empenho tático dos jogadores e monta times que se impõe sobre os adversários —o modesto Rio Ave, que comanda nesta temporada, tem média de 54,4% de posse de bola, inferior apenas às marcas dos quatro maiores clubes de Portugal (Benfica, Porto, Sporting e Braga). O português já tem mais de 20 anos de experiência como treinador e trabalhou em mercados como Grécia, Turquia e Inglaterra (chegou a dirigir o Swansea City na Premier League). No entanto, não está muito acostumado a comandar equipes com pretensão de ocupar o alto da tabela.
Seus dois trabalhos mais ambiciosos não tiveram muito sucesso. Em 2009/10, foi só quarto colocado no Campeonato Português com o Sporting. Dois anos depois, repetiu a posição com o Besiktas na Turquia. Em contrapartida, com elencos mais pobres e menor pressão por resultados, foi campeão da Taça da Liga portuguesa pelo Vitória de Setúbal (2007/08) e vice da Taça de Portugal com o Aves (2001/02).
MIGUEL ÁNGEL RAMÍREZ
Espanhol 35 anos
Independiente del Valle (EQU)
Como o argentino Marcelo Gallardo, do River Plate, é considerado uma carta fora do baralho, o comandante do Independiente del Valle é tratado pelo Flamengo como a melhor opção disponível no futebol sul-americano. Apesar de trabalhar no Equador, Ramírez é tão europeu quanto os outros nomes desta lista. E tem a vantagem de já conhecer melhor que os outros portugueses e espanhóis o mercado e os campeonatos nos quais o Flamengo estão inseridos.
O espanhol de Las Palmas tem uma carreira meteórica no banco de reservas. Ele estreou como treinador de times adulto há apenas um ano, já no Del Valle, e, mesmo assim, já tem um título relevante da Copa Sul-Americana no currículo. Mesmo assim, a pouca experiência ainda é um peso que ele carrega.
Ex-treinador de times de base, Ramírez trabalhou durante seis anos na Academia Aspire, o centro de formação de jogadores do Qatar que foi desenvolvido em cima dos mesmos métodos utilizados na base do Barcelona. Por isso, os ideias de futebol de Ramírez passam por uma profunda valorização da posse de bola e o uso frequente de jovens atletas recém-promovidos para os profissionais.
DOMENÈC TORRENT
Espanhol 58 anos
Sem clube
O ex-meia catalão que teve uma carreira incipiente como jogador na década de 1980 não aparecia nas primeiras listas de interesse do Flamengo para substituir Jorge Jesus. No entanto, as dificuldades de encontrar um sucessor à altura do português foram tornando seu nome uma possibilidade cada vez mais real. Ao longo dos últimos 14 anos, Torrent só teve um trabalho em voo solo como técnico. Entre junho de 2018 e novembro de 2019, ele comandou o New York City, onde conquistou 44,4% dos pontos que disputou e fez da equipe a segunda melhor campanha da última temporada regular da Major League Soccer (MLS).
Mas suas melhores credenciais nem vem do que ele aprontou nos Estados Unidos, mas sim das dez temporadas em que foi auxiliar de Pep Guardiola no Barcelona, no Bayern de Munique e no Manchester City. Assim como o antigo chefe, Torrent é detalhista, curte um futebol mais ofensivo, é adepto da marcação alta e costuma armar seus times com três homens de frente. A vasta experiência em gigantes europeus faz dele também um profissional acostumado a lidar com estrelas e egos inflados, o que pode lhe ajudar um vestiário cheio de nomes de peso (para o cenário nacional), como o do Flamengo. Por outro lado, o catalão ainda é uma aposta como treinador e não ganhou nada nos EUA.
https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rafael-reis/2020/07/24/4-tecnicos-cotados-para-assumir-o-flamengo-como-jogam-e-o-que-ja-ganharam.htm