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Gondim declara rejeitar dependência de Deus: ‘Abandonei premissas evangélicas’
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Publicado em 15/10/2023

O líder da Igreja Betesda, Ricardo Gondim, usou sua página no Instagram para dizer que está em um tempo de honestidade sobre suas posturas e crenças, reiterou seu abandono “às premissas das doutrinas do movimento evangélico” e, novamente, rejeitou a visão que descreve a soberania de Deus.


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“Chegou a hora de ser cândido. Abandonei sim as premissas das doutrinas do movimento evangélico”, escreveu, sem rodeios. Gondim, que já foi um dos mais eloquentes pregadores pentecostais do Brasil no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, agora se propõe a combater a teologia que confronta suas ideias.

A cada publicação que faz, em tom de desabafo, o líder da Betesda explicita que sua inconformidade nasce em uma visão de mundo que enxerga o ser humano como o centro da razão da existência, dizendo que não concorda com o “pessimismo antropológico” dos evangélicos, termo que cunhou para se referir à doutrina da queda: “Não creio que a humanidade seja herdeira e culpada no pecado de Adão e Eva”.

Em seguida, Gondim descreve que sua rejeição à soberania de Deus é o resultado de compreensões que desenham o ser humano como independente e autossuficiente: “Não cabe em meu sentido ético que o mundo dependa de intervenções pontuais de Deus – ou que deva esperar salvamentos particulares. Não partilho da escatologia que engrena o mundo aos propósitos de Deus e diz que ele gerencia tudo o que acontece”.


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Em outras publicações, Gondim já havia externado sua antipatia ao pensamento calvinista, a sistemática que mais enfatiza o conceito de soberania de Deus dentre as diferentes linhas teológicas do protestantismo.

Agora, o antigo pastor deixa claro que não está preocupado em externar coerência: “Antecipo-me aos defensores da fé. Não me interesso em esgrimar na defesa de certezas; não me importo se sou demolido em meus argumentos. A verdade que abraço não carece de explicação”.

Após expor sua tristeza pela reprovação recebida diante de seus posicionamentos, Ricardo Gondim resume suas escolhas: “Mais introspectivo, mais brando e mais e contemplativo prefiro desocupar a alma dessa vida falsa antes que seja tarde demais”.

Confira o texto na íntegra:


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Chegou a hora de ser cândido. Abandonei sim as premissas das doutrinas do movimento evangélico.

Não partilho do seu pessimismo antropológico – quero dizer, não creio que a humanidade seja herdeira e culpada no pecado de Adão e Eva. 



Não cabe em meu sentido ético que o mundo dependa de intervenções pontuais de Deus – ou que deva esperar salvamentos particulares. Não partilho da escatologia que engrena o mundo aos propósitos de Deus e diz que ele gerencia tudo o que acontece.



Antecipo-me aos defensores da fé. Não me interesso em esgrimar na defesa de certezas; não me importo se sou demolido em meus argumentos. A verdade que abraço não carece de explicação.




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Abalaram-se também os meus ideais juvenis e com eles ruíram conceitos de amizade que ingenuamente preservei. Passei anos iludido com pessoas que me rasgavam seda enquanto guardavam ressentimento. Mal sabia que não eram amigos, mas parasitas que se alimentavam de minha tola notoriedade. No dia em que se alardeou que eu estava em decadência, rápidos como os ratos que abandonam um navio, os tais amigos se apressaram em desaparecer.



Não guardo mágoa de ninguém. Mas, confesso, não há dor mais atroz que sentir-se abandonado quando as pedradas se multiplicam. Esperei mãos estendidas e recebi unhadas. Ando hoje à procura de amigas e amigos; sei que existem e que não dependem de doutrina. Me oferecerei a quem não faz do companheirismo um jogo de interesses.



Não passo do menino que não desiste, mas sou também o adulto que cultiva o silêncio como dom sagrado. Procuro a caverna de refúgio do profeta; preciso da cela dos monges; espero que algum samaritano me leve à hospedaria que Jesus mencionou na parábola.



Sou tenaz e recuso o limbo dos que não tomam partido em nada.



Repito Álvaro de Campos:


“temos todos duas vidas: a verdadeira, que é a que sonhamos na infância,


E que continuamos sonhando, adultos num substrato de névoa;


A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,


Que é a prática, a útil,


Aquela em que acabam por nos meter num caixão”.



Mais introspectivo, mais brando e mais e contemplativo prefiro desocupar a alma dessa vida falsa antes que seja tarde demais.


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